Critica do filme Um Divã para Dois

O material promocional deste filme sugere uma comédia maliciosa, focada no erotismo e nas perversões sexuais. Um Divã Para Dois não tem nada destes elementos, mas dá para perdoar a propaganda enganosa pela imensa dificuldade de se vender este projeto ao grande público. Trata-se de um romance dramático sobre a terceira idade, dotado um ritmo particularmente lento, arrastado, linear. O humor é discreto, nada apelativo.

 
Logicamente, a presença de Meryl Streep e Tommy Lee Jones no elenco ajuda a vender o produto, sem falar no talento cômico de Steve Carell, que contribui a supor que esta aqui é mais uma comédia comum. O currículo do diretor termina de apresentar a obra: ele é o mesmo de O Diabo Veste Prada, a comédia divertida, mas nada sutil, sobre as ferocidades do mundo da moda. Se a comparação ajuda, este aqui seria um Diabo Veste Prada depressivo, sob efeito de tranquilizantes. Um triste final de desfile.
 
Um Divã Para Dois é um filme surpreendente em diversos sentidos. O tom terno, gentil e inofensivo é uma surpresa em uma história que aborda tão francamente o sexo. Meryl Streep minimiza sua "atuação de diva", afetada, e compõe uma personagem mais discreta (exceto nos closes, quando ela não consegue se conter), enquanto Tommy Lee Jones fica encarregado de todo o humor irônico e explícito. Steve Carell decide aceitar um papel secundário, superficial, sem nenhum humor, e o faz com a dignidade e seriedade típicas de um ator estreante, contente de ter conseguido uma ponta ao lado de Meryl Streep.
 
Mas o fator inesperado é mesmo o ritmo. A história é lentíssima, voluntariamente repetitiva (o casal briga, vai à terapia, depois briga, vai à terapia...), adotando um estilo "indie" nas músicas onipresentes, na luz bege e sem contraste, nos cenários de interiores felpudos e acolhedores, quase se esquecendo de que a produção dispõe de grandes estrelas e de um orçamento de 30 milhões de dólares. Um Divã Para Dois lembra uma adaptação das séries Dawson's Creek ou Gilmore Girls para espectadores com mais de 40 anos de idade.
 
Não há nada de errado com isso, até porque tanto os personagens quanto o amor e o sexo são tratados com um carinho e uma sinceridade mais do que respeitáveis. O diretor David Frankel não quer chocar nem apaziguar, ele pretende simplesmente acompanhar este casal desgastado, dia após dia, esperando para ver aonde eles chegam. O filme existe apenas para seus personagens, e faz da monotonia da vida dos dois a sua própria. Se Streep e Jones não fossem atores tão talentosos, se Carell não fosse tão generoso na construção de seu personagem, não haveria filme.
 
Por isso, perdoamos a trilha sonora excessiva, a direção segura e escolar, a placidez quase entediante do conjunto. Um filme capaz de passar em única cena do ápice da alegria ao ápice da tristeza (que belo momento da lareira) é um presente aos seus atores, e uma pequena pérola em um mercado de filmes acelerados, apelativos e multicoloridos. Um Divã Para Dois traz uma melancolia duramente realista.