Critica do filme O Que Esperar Quando está Esperando

 

Até 21 de dezembro, quando estreia “This is 40”, de Judd Apatow, maior diretor-autor americano da atualidade quando o assunto é humor, o posto de melhor comédia americana do ano está sendo disputado por dois pretendentes, radicalmente diversos. De um lado do ringue, o do escracho, vem “Ted”, que só estreia aqui em setembro, acompanhando as picardias de Mark Wahlberg e um ursinho de pelúcia falante. Do outro, o lado da doçura, está a love story obstétrica “O que esperar quando você está esperando” (“What to expect when you’re expecting”), que chega às telas brasileiras amanhã ilustrando a evolução de Rodrigo Santoro como ator, num gênero que ele pouco exercitou, valorizado pelo jogo de improvisos com Chris Rock.
 
Realizador de uma pérola do humor britânico chamada “A fortuna de Ned”, que partia da morte para propor uma reflexão sobre a amizade, o diretor inglês Kirk Jones seguiu o caminho inverso — o da concepção — para abordar seu tema preferido: a lealdade. Sua matéria-prima vem da literatura: a prosa best-seller de Heidi Eisenberg Murkoff, autora especializada em livros para gestantes (e agregados), acerca dos dissabores e alegrias da maternidade. Horas antes de parir Emma, sua primogênita, Heidi bolou o projeto de uma publicação sobre as transformações na vida de um casal (e no corpo feminino) trazidas pela gravidez. A ideia se converteu numa máquina editorial de fazer dinheiro, com 17 milhões de exemplares vendidos.
 
Orçada em US$ 40 milhões, a versão de Kirk Jones para o livro, rodada em Atlanta (EUA) e em locações na África do Sul, já alcançou uma arrecadação de US$ 74,5 milhões nas bilheterias — o que, embora não a qualifique como um blockbuster, põe a produção na frente de outros títulos cômicos lançados com zero sucesso por Hollywood em 2012. Para além das cifras, a crítica internacional encontrou vigor na mescla que o cineasta conseguiu fundindo riso, drama e romance, numa narrativa mais próxima da estrutura televisiva de séries como “Felicity” e “Modern family”, criando uma espécie de novela, com muitos núcleos dramáticos baseados em rejeição e angústia, a partir dos aforismas ginecológicos de Heidi.
 
Na tela, o diretor de “Estão todos bem” (uma joia com Robert De Niro inédita no Brasil) arquiteta um painel sobre a insegurança a partir de casais atropelados pela cegonha. Na ciranda dos novos “grávidos” entram celebridades (a apresentadora de um programa de TV vivida por Cameron Diaz), uma gerente de loja para bebês e gestantes (Elizabeth Banks, em um show particular) e até um “tio Sukita” metido a garanhão (Dennis Quaid). Mesmo rodeado pela canastrice de Jennifer Lopez (uma fotógrafa obcecada por adoção), Santoro tem tempo para transformar seu personagem, o músico Alex, num diapasão que vibra ao som do medo ao encarar a hipótese de ser pai. Ele é o que melhor lapida a noção da paternidade imposta, conduzindo o filme para além do lirismo, ajudando Jones a discutir o ônus da palavra “amigo” em momentos de pânico. No ano em que marcou o gol da maturidade com “Heleno”, o ator dá um tom agridoce a um folhetim que ganha a plateia pela sobriedade.