Critica do filme O Diário de TATI

 

No filme O Diário de Tati há uma cena que não tem tanta importância para a narrativa, mas, em si, é chave para a credibilidade da história. A protagonista está atrasada para a aula, o carro da mãe não funciona e ela acaba embarcando na perua das crianças do primário. Quando a atriz Heloísa Périssé, que vive uma adolescente, sai do veículo no meio dos pimpolhos, pode soar estranho, mas ela mais parece um deles do que a adulta que atualmente vive Monalisa, na novela Avenida Brasil.
 
Pode ser uma prova da competência da atriz, de 46 anos, ou mais um truque do cinema. A questão é que ela funciona como a personagem. Heloísa, evidentemente mais velha do que os demais atores que interpretam os colegas de Tati, está confortável e segura, especialmente porque não se coloca num pedestal nem olha os adolescentes de cima para baixo. Não existe também nenhuma caricatura da adolescência, só um olhar sobre a geração do presente.
 
Ainda assim, o filme se ressente um pouco do fato de ter sido feito há mais de cinco anos. Não que isso o invalide, mas deixa de contemplar alguns elementos da adolescência do nosso tempo – especialmente a comunicação ininterrupta com celulares e internet. O computador de Tati, por exemplo, parece jurássico. Se detalhes como esse forem deixados de lado, “O Diário de Tati” tem algo a dizer e pode divertir.
 
Não se deve esperar muito mais do que uma extensão do quadro do dominical “Fantástico”, no qual a personagem ganhou mais destaque – apesar de criada no teatro e ter participado da Escolinha do Professor Raimundo. Ainda assim, Heloísa (que coescreve o roteiro com Tiza Lobo e Paulo Cursino) e o diretor Mauro Farias estão cientes do tamanho do filme, e não ambicionam mais do que a personagem pode dar conta. Por isso, funciona.
 
Há um elemento cômico, mas também de ternura e respeito, quando Heloísa interpreta uma adolescente. É impossível nunca ter conhecido uma “Tati” (ou mesmo ter sido uma) ao longo da vida. Aquela ansiedade em que cada dia parece ser o último e os seus desejos, medos e sofrimentos os maiores do mundo. O jeito de falar, o uso de gírias e trejeitos dão o tom e a veracidade à personagem.
 
A trama se abre como uma crônica da juventude – descompromissada e praieira, como a personagem, afinal o filme não tem (e nem deve ter mesmo) qualquer ambição antropológica. Tati e toda a sua classe ficam em recuperação de matemática. Para tentar não perder o ano, ela assiste a aulas particulares com o amigo de seu irmão (Pedro Neschling), Maurinho (Marcelo Adnet).
 
No ambiente escolar surgem as disputas com sua rival, Camila (Thais Fersoza), pela atenção do menino mais popular, Zeca (Thiago Rodrigues) e os laços de amizade. Em casa, são as interações de Tati com a mãe (Louise Cardoso, sempre excelente) que conduzem as relações familiares. É claro que O Diário de Tati tem mais a dizer ao público adolescente e potencial e, com ele, travar um diálogo saudável.