Critica do Filme 007 - Operação Skyfall

 

Após entregar uma pistola e um rádio para James Bond, o cientista Q nota a cara de decepcionado do agente e questiona: "O que você esperava? Uma caneta explosiva? Não fazemos mais isso." A frase é divertidinha e simples, mas diz muito sobre os últimos filmes do herói. Desde que Daniel Craig assumiu o posto do espião mais badalado da sétima arte que temos recebido longas focados em um tipo de ação mais realista. A referência clara é a trilogia de Jason Bourne, como fica evidente nas diversas sequências de perseguição com motos subindo e descendo escadas constantemente. 
 
Para 007 - Operação Skyfall, Sam Mendes contou com outra referência de peso: Batman - O Cavaleiro das Trevas. O próprio diretor admitiu que só aceitou comandar o filme após ver o trabalho de Christopher Nolan. E isso fica claro no decorrer da obra, com o vilão vivido por Javier Bardem surgindo como uma espécie de Coringa, seja pelo visual estranho, seja pelo fato de lidar bem com o caos. 
 
O novo filme mantém a ação frenética de 007 - Cassino Royale e 007 - Quantum of Solace, mas promete encantar os fãs da franquia ao ensaiar uma aproximação com o clássico. Se nos anteriores, Bond não liga para como o Martini é preparado, dirige um carro alugado e chega ao cúmulo de não dormir com uma Bond Girl (Olga Kurylenko), aqui recebemos doses cavalares de nostalgia, a começar pela presença do clássico carro Aston Martin DB5, com a placa BMT216A. Os admiradores de 007 também ficarão empolgados ao ouvirem o lendário tema composto por Monty Norman em sua forma original. 
 
Na trama, 007 é ferido durante uma missão e dado como morto pelo governo britânico. Ele, no entanto, vê a situação como a chance de se aposentar e deixar para trás a vida de arriscadas missões. Ao ficar sabendo de um ataque terrorista à sede da agência MI6, em Londres, o agente decide voltar ao serviço, colocando-se a disposição de M para apanhar o responsável pelo crime.
 
Daniel Craig está cada vez melhor na pele do herói. Pode não ter tanta cara de galã como Roger Moore ou Pierce Brosnan, mas chama atenção pela virilidade em que age em cada sequência. É importante destacar que o ator está cada vez mais confortável no papel, se saindo bem inclusive nas cenas em que exige um pouco mais de charme ou glamour. Em determinado momento, o espião se joga em um trem em movimento e a primeira coisa que faz ao "aterrissar" é ajeitar as mangas da camisa. Isso é Bond!
 
Um grande herói precisa sempre de um grande vilão e isso faltou em Cassino Royale e, principalmente em Quantum of Solace. Aqui, entretanto, no deparamos com um antagonista de respeito. O Raoul Silva vivido por Bardem é um personagem interessantíssimo, que tem tudo para fazer história como um dos mais icônicos vilões de 007. É curioso perceber a capacidade do ator em transformar sujeitos de visuais bizarros em seres temidos. Se em Onde os Fracos Não Têm Vez aparecia com uma franja ridícula, aqui está ainda mais estranho com os cabelos e sobrancelhas tingidas. Ainda com relação a Silva, os produtores merecem aplausos ao investir em um personagem complexo, com indícios inclusive de uma homossexualidade. O primeiro encontro entre 007 e Raoul é excelente e mostra o quão confortáveis estão os atores com seus papéis.
 
Ao contrário dos últimos longas, que sempre traziam vilões com pretensões globais, aqui nos deparamos com um sujeito em uma jornada pessoal de vingança. Isso não significa que suas ações não afetarão muitas pessoas, mas é interessante ver esse tipo de abordagem na franquia. Bond e Silva entram em um jogo de gato e rato (ou rato e rato, como diz o filme) que afetará muitas vidas. Muitas vezes figura coadjuvante, M aparece com muito destaque na produção. Ela sofre pressões políticas para se aposentar ao mesmo tempo em que lida com ameaças a sua vida e de seus agentes. A personagem é vivida mais uma vez pela ótima Judi Dench, que deixou de ser aquela tradicional figura materna para surgir como a líder de uma agência de espionagem que passa por inúmeras dificuldades. Ela faz um belo discurso em que defende a importância do serviço secreto no mundo de hoje. 
 
Bérénice Marlohe, Ralph Fiennes, Naomie Harris, Ben Whishaw e Albert Finney completam o elenco, com destaque para os dois primeiros. Marlohe interpreta a cativante e misteriosa Bond Girl Severin, enquanto que Fiennes surge como um importante membro do governo, que entrará em confronto com 007 e M por considera-los ultrapassados.
 
Sam Mendes realizou um ótimo trabalho na produção, mostrando que respeita o personagem. Vencedor do Oscar por Beleza Americana, o diretor soube como poucos unir o novo e o clássico, mas não perdendo tempo com referências vazias. Ele contou com a ajuda do sempre talentoso diretor de fotografia Roger Deakins, de Um Sonho de Liberdade e Onde os Fracos não Têm Vez. Juntos, Mendes e Deakins conseguem investir em uma fotografia frenética e ao mesmo tempo sem muitos cortes. O trabalho de cores também merece aplausos, principalmente por toda sequência final. inda sobre a parte técnica, a trilha de Thomas Newman rouba a cena, com destaque para a canção tema "Skyfall", composta e apresentada por Adele. Na verdade, o filme é quase um primor técnico. O design de som, a mixagem e a edição de som chamam a atenção pela qualidade e pelo fato de trabalharem para o filme, não se preocupando em um segmento roubando o espaço do outro. 
 
Orçado em US$ 200 milhões, o 23º longa de "Bond, James Bond" tem como principal problema o fato de ignorar totalmente os dois anteriores, deixando de lado a organização terrorista Quantum, que vinha ganhando cada vez mais importância na série. A intenção parece ter sido fugir totalmente do visto em 007 - Quantum of Solace, que por sinal foi um fracasso total de crítica. Mas uma coisa é certa: esta ressalva é muito pouco para te fazer não assistir ao filme. Confira e saiba que estará diante de uma das mais interessantes produções sobre o espião.