2° Critica do filme Missão Impossivel - Protocolo Fantasma

 

Dono de uma carreira impecável construída na animação (O Gigante de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille), o diretor Brad Bird escolheu, em Missão: Impossível 4, o projeto ideal para seu salto rumo às produções live action: calcado em sequências de ação que beiram (de forma positiva) o cartunesco e que são protagonizadas por personagens aparentemente invulneráveis que escapam sem maiores consequências de capotagens, explosões e quedas, o novo filme da série se revela também seu melhor, superando o eficiente exemplar anterior, que havia sido comandado por J.J. Abrams (que aqui assume o papel de produtor) e comprovando que as aventuras dos agentes da IMF ainda podem render muitas alegrias (e fortunas) a Tom Cruise e à Paramount.
Escrito por Josh Appelbaum e André Nemec, que trabalharam com Abrams na série Alias, o roteiro desta continuação mantém o padrão da franquia ao não importar de fato, limitando-se a criar uma ameaça genérica que permita que o herói Ethan Hunt (Cruise) e sua equipe, mais uma vez renegados pela agência (será que não aprendem nunca?), possam se dedicar a invadir prédios, fortalezas e mansões cujas plantas são concebidas com a única função de oferecer desafios interessantes aos mocinhos. Seguindo uma estrutura de videogame que obriga o protagonista a enfrentar obstáculos cada vez maiores até chegar à fase final e ao Chefão, a trama tola serve apenas de atalho entre as elaboradas sequências de ação – e mesmo os personagens nada mais são do que avatares unidimensionais que ali estão para saltar de um lado a outro enquanto nos divertimos com o absurdo da coisa.
Tornando-se uma figura cada vez menos complexa à medida que a franquia avança, Ethan Hunt é vivido por Tom Cruise como um homem com imenso vigor físico e agilidade assustadora – e também sem qualquer indício de personalidade, já que continuamos sem ter ideia, mesmo após quatro filmes, de quem é aquele sujeito e o que o move além das ordens de seus superiores. Não que isto faça diferença: exibindo uma fluidez admirável nos gestos, desde os saltos que dá de um andar a outro na cena inicial até o instante em que agarra celular, bota e jaqueta na rua sem sequer interromper o caminhar, Cruise jamais deixa de convencer como um agente capaz de executar proezas inimagináveis – e basta vê-lo pegar um clipe de papel para sabermos que tudo ficará bem. Além disso, o ator mal parece estar à beira dos 50 anos de idade, mantendo a mesma corrida intensa e desesperada que se tornou sua marca registrada em tantos longas.
Com um elenco secundário eficiente composto pela bela Paula Patton e por um Simon Pegg cada vez melhor em ser Simon Pegg, Missão: Impossível 4 também introduz Jeremy Renner como um possível (e eficaz) substituto de Cruise no futuro – e não é à toa que seu personagem chega a repetir algumas das ações de Ethan Hunt no longa original, como ao ficar suspenso a centímetros do solo enquanto executa uma ação delicada que leva o suor a escorrer por seu rosto. Por outro lado, o sueco Michael Nyqvist (o protagonista da versão original da trilogia Millenium) cria o vilão mais desinteressante da série, o que transforma seu destino mais em um anticlímax do que em uma vitória a ser celebrada pelo espectador.
Divertida na concepção das engenhocas usadas pelos heróis em suas missões (a tela que reproduz o ambiente atrás de si é particularmente inventiva), esta continuação mantém um ritmo admirável do início ao fim, o que, considerando sua longa duração (133 minutos), é um feito considerável. Além disso, Bird mostra-se seguro na condução da ação, evitando vícios irritantes como o excesso de movimentação de câmera e cortes frenéticos, permitindo, assim, que acompanhemos a mise en scène com facilidade mesmo que até a entrada dos personagens em um vagão de trem se revele uma pequena aventura. Para completar, o ótimo compositor Michael Giacchino volta a trabalhar o tema clássico de Lalo Schifrin com inteligência, introduzindo-o pontualmente com sutileza e evitando o desgaste pela repetição excessiva.
Pecando aqui e ali pela exposição excessiva e por diálogos absolutamente redundantes (depois de quase atingirem uma cáfila, Hunt parece supor que há algum deficiente visual no carro e assume o papel de audiodescritor, comentando: “Camelos.”), Missão: Impossível 4 compensa estes tropeços através de pequenos momentos mais sutis que quase permitem que os personagens se tornem mais verossímeis – como a hesitação do protagonista diante de um salto especialmente perigoso durante uma fuga.
Não é o bastante para que aqueles indivíduos se tornem mais reais do que o sr. Incrível ou o rato Remy, mas Brad Bird nunca precisou lidar com criaturas de carne e osso para envolver o espectador – e não é aqui que isto fará falta.